Preocupado com suas finanças? Aprenda a evitar o estresse financeiro

Por Redação Onze

Apesar de soar como algo prejudicial e negativo, o estresse é um mecanismo natural que proporcionou a nós, seres humanos, vantagens evolutivas importantes.

Segundo a psicóloga Rita Calegari, especialista em psicologia da saúde e gerente multiprofissional da rede de hospitais São Camilo, o estresse não é um problema em si, mas uma resposta do organismo a um evento externo que nos deixa em estado de alerta e que pode ser útil para o ser humano.

Como o estresse desencadeia uma reação de luta ou fuga, ele desempenhou um papel importante na hora de lidar com ameaças mais primitivas. Nos tempos modernos, porém, os elementos que desencadeiam o estresse sofreram grandes mudanças.

“Atualmente as situações que geram estresse são mais simbólicas, como um temor ou uma preocupação em relação a algo que pode ocorrer e nos tirar a paz, a tranquilidade, o status, a condição financeira”, afirma Calegari.

O estresse acaba se tornando um problema quando se torna crônico. É o que ocorre no caso do estresse financeiro.

O que é o estresse financeiro?

Para o Financial Health Institute, o estresse financeiro é o resultado de eventos financeiros ou econômicos que criam ansiedade, preocupação, sensação de escassez e uma possível resposta fisiológica de estresse.

A pessoa que sofre com o estresse financeiro tende a ficar mais propensa a entrar em conflitos com os outros, ter uma queda na produtividade e sofrer antecipadamente com eventos futuros. Isso porque ela pensa constantemente nos diversos cenários possíveis para os seus problemas e antecipa uma série de sentimentos negativos que acha que irá experimentar no futuro.

Causas do estresse financeiro

Dentre os eventos que podem desencadear os sintomas de estresse relacionado às finanças, existe um consenso entre especialistas em relação aos principais.

Ter despesas superiores aos rendimentos é uma das causas principais de estresse financeiro. Os motivos para as pessoas não conseguirem manter as suas despesas dentro de seu patamar de renda variam, mas, em geral, estão associados a:

  • Manter um padrão de vida acima do que a renda pode bancar
  • Consumismo e gastos com coisas supérfluas
  • Renda baixa demais para atender às necessidades básicas

Apesar de as causas serem diferentes, os resultados da desorganização financeira são sempre os mesmos: dívidas, dificuldades em poupar e cada vez mais estresse.

  • Endividamento

A pessoa endividada acaba sofrendo com constantes cobranças, é frequentemente notificada que seu nome está “sujo” e tem muita dificuldade em conseguir crédito. Com isso, ela acaba tendo de adiar planos, pois não consegue financiar a casa própria ou o carro, não pode solicitar empréstimos, aumentar o limite do cartão de crédito ou mesmo alugar um imóvel.

Quem está endividado também pode sofrer estresse por conta de eventuais ameaças de credores que, não raramente, entram com ações judiciais para forçar o devedor a pagar a dívida.

O endividado, por fim, também sofre quando a sua condição de inadimplente se torna conhecida, como no caso de um credor descontente comentar com outras pessoas de seu círculo social que ele não honra os seus compromissos. Dessa forma, ele pode ter algumas relações sociais comprometidas por causa das dívidas e acabar adquirindo uma fama indesejada.

Quem não consegue poupar qualquer valor ao final do mês também pode experimentar sintomas de estresse financeiro.

Ao não poupar, você acaba se tornando vulnerável a qualquer situação emergencial, como uma demissão, uma doença que gere gastos altos ou um problema em casa que demande uma reforma de última hora.

Além disso, quem não poupa fica sem condições de ter um futuro seguro e estável, já que gasta toda a sua renda para atender às necessidades imediatas.

  • Instabilidade profissional

A falta de estabilidade financeira também é um fator que provoca o estresse financeiro. Pessoas que estão sob constante ameaça de demissão não conseguem fazer planos de longo prazo.

A incerteza, por sua vez, acaba gerando uma ansiedade constante em relação à capacidade que elas terão de se manter no futuro. O resultado disso é o estresse.

  • Incerteza em relação aos ganhos

O nível de estresse financeiro pode ser afetado também pela incerteza em relação aos ganhos, como no caso de trabalhadores autônomos e empreendedores. Esses profissionais não têm um salário fixo garantido e acabam tendo de lidar com altos e baixos nas suas profissões.

A incerteza e insegurança em relação ao dinheiro acabam dando espaço para os sintomas de estresse financeiro.

Quem está mais propenso ao estresse financeiro

O estresse financeiro não está associado a uma classe social específica, explica a coach financeira e doutora em finanças pela FEA-USP Rosi Donadio.

“Quem entra no processo de estresse financeiro são aquelas pessoas que, por um motivo ou por outro, perderam o controle da vida financeira. Pessoas nessa situação podem pertencer a todas as classes sociais, níveis de renda, idade”, diz Donadio.

Segundo a coach financeira, existem questões práticas e cognitivas que levam as pessoas a terem um maior estresse financeiro, assim como questões comportamentais. Alguns exemplos são:

  • Quem ganha pouco ou tem pouca informação

“Existem pessoas que sofrem com o estresse financeiro pois têm uma baixa educação financeira. Elas não sabem como lidar com o dinheiro, se atrapalham e acabam se estressando”, diz Donadio.

“Outras não conseguem lidar com o cartão de crédito ou com o cheque especial. Elas compram muito no cartão de crédito, acham que podem pagar a parcela mínima e não têm noção dos juros enormes que vão pagar”.

Pessoas com rendas mais baixas também tendem a sofrer mais com essa condição porque têm mais dificuldade em manter um padrão de vida digno e evitar endividamentos. “Mesmo quando elas querem pagar as contas em dia, acabam gastando mais do que têm e ficam estressadas financeiramente”, diz Donadio.

Além disso, é comum que pessoas de baixa renda não consigam poupar, pois precisam destinar todo o dinheiro para as necessidades básicas.

  • Quem é desorganizado

Existem pessoas que, mesmo não sendo consumistas, sofrem estresse financeiro, pois não se organizam da forma necessária para pagar as contas dentro do prazo e acabam tendo de arcar com multas e juros de mora. Essa falta de planejamento é ainda pior no caso do cartão de crédito, pois não pagar a fatura no prazo ou pagar um valor muito pequeno gera juros exorbitantes.

Além disso, a falta de organização pode provocar estresse financeiro quando a pessoa faz diversos empréstimos e acumula financiamentos.

  • Quem é relapso ou preocupado demais

Algumas pessoas, mesmo em uma condição financeira muito delicada, não se preocupam com as contas. Elas pensam que está tudo bem, que depois darão “um jeito” nas dívidas e seguem empurrando a vida financeira com a barriga.

Esse tipo de comportamento pode ser definido pela personalidade, que também é um fator determinante para o estresse financeiro. E não são apenas as pessoas desatentas, relapsas ou desorganizadas que sofrem.

Quem é organizado e planeja a vida financeira também pode se estressar se for muito ansioso ou preocupado. Mesmo não enfrentando dificuldades, essas pessoas têm o hábito de antecipar problemas e pensar nas contas o tempo todo.

  • Quem sonha alto demais

Algumas pessoas acabam estabelecendo um patamar muito alto em relação ao sucesso financeiro que pretendem alcançar. Elas geralmente acreditam que o dinheiro é a principal (e às vezes a única) forma de medir o sucesso de alguém e, por conta disso, dão uma importância muito grande às finanças.

Quando não chegam ao patamar financeiro que desejam, essas pessoas tendem a fazer jornadas de trabalho exaustivas, trabalhando o máximo que podem e fazendo quantas horas extras a mais conseguirem para chegar mais perto de seus objetivos. Ou então elas resolvem cortar todos os gastos possíveis e deixam de lado momentos de lazer e pequenos prazeres. O aumento do nível de estresse vem como consequência.

  • Quem só quer status

Para Donadio, a questão do estresse financeiro tanto pode estar associada à falta de dinheiro como à necessidade de manter um status. Mesmo quem tem uma renda alta pode se endividar se começar a buscar um padrão de vida ainda mais alto do que o seu dinheiro pode proporcionar.

Se você dá muito valor ao status e se compara frequentemente a outras pessoas, por exemplo, tende a ser mais consumista e gastar com bens supérfluos – ou com coisas que até são úteis, mas poderiam ser mais baratas (como se endividar para comprar um carro esportivo caro).

“Muitas pessoas querem fazer parte de determinado grupo e, para isso, precisam ter determinado comportamento financeiro, que pode não condizer com a sua realidade, levando-as ao endividamento e estresse”, diz ela.

  • Quem não tem autocontrole

Por fim, pessoas que que consomem compulsivamente também tendem a cair no estresse financeiro, pois acumulam dívidas comprando ou gastando com coisas que, na maioria das vezes, são desnecessárias.

“Muitas pessoas sofrem com a questão comportamental, de autocontrole. Ou seja, elas querem comprar o que desejam sem pensar nas consequências futuras. O ser humano é movido pelo prazer. Ele quer antecipar o prazer e adiar a dor”, explica Donadio.

Dicas para lidar com o estresse financeiro

  • Organize-se

A principal dica para evitar o estresse financeiro é manter uma vida financeira organizada, olhar de frente para o que está errado e tentar fazer mudanças significativas em relação ao que não está funcionando, afirma a coach financeira.

“Se você está em desorganização, você precisa achar uma forma de renegociar dívidas e se planejar”, afirma Donadio. “Se está faltando dinheiro, você precisa buscar uma renda extra ou controlar os impulsos de gastos”.

Ela alerta que, nos momentos de crise como a atual pandemia do novo coronavírus, ter organização financeira e controle sobre seus gastos se torna ainda mais importante, pois muitas pessoas estão com os empregos ameaçados e não sabem do dia de amanhã.

  • Busque educação financeira

Nessa busca por uma vida financeira mais saudável, é essencial que a pessoa procure uma boa educação financeira e aprenda a: planejar seu orçamento, analisar o que é essencial e o que é supérfluo nas suas despesas mensais, fazer cortes onde for necessário e priorizar o que realmente é importante.

  • Levante bens que possam ser vendidos

Outra forma de minimizar o seu estresse financeiro, segundo o consultor financeiro Vitor Palazzo, mestre em finanças pela FEA-USP, é fazer um levantamento de quanto você possui em bens. Em seguida, veja de quais deles você pode se desfazer com razoável facilidade para obter mais dinheiro para arcar com suas necessidades mensais.

“Existem diversos bens que possuímos, mas praticamente não usamos. Bens supérfluos como jóias podem ser uma boa opção para levantar recursos, por exemplo”, explica ele. Outra possibilidade é a pessoa vender o carro e passar a usar o transporte público ou então trocá-lo por um mais barato, por exemplo.

  • Faça reservas

Para evitar o estresse, Palazzo sugere que qualquer pessoa tenha reservas financeiras (em dinheiro guardado) que correspondam às suas necessidades de 3 a 6 meses. Isso permitirá que você não recorra a empréstimos e consiga atravessar situações emergenciais sem mudanças significativas no seu planejamento financeiro.

  • Priorize gastos com atividades relevantes

Além de analisar os seus gastos e fazer cortes, é necessário ver até onde você está comprometido com os compromissos que assume.

Se você paga um valor considerável por mês em uma academia chique, mas apenas aparece lá de vez em quando, isso indica claramente que você não está comprometido com a atividade, que tem um custo.

Nesse caso, você precisa decidir se vale a pena se comprometer realmente, passando a frequentar o local, ou se é melhor suspender o gasto e dedicar seu dinheiro para algo que realmente seja importante para você.

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