Ibovespa: entenda o que é e como funciona

Por Redação Onze

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Quem se interessa pelo mercado financeiro ou quer começar a investir, precisa entender bem alguns conceitos ligados ao setor. Dentre eles, um dos mais importantes é o Ibovespa, que é o principal índice de ações da bolsa de valores brasileira, conhecida como B3. É por meio dele que os investidores conseguem acompanhar o desempenho das ações com maior peso no mercado.

O que é o Ibovespa?

Criado em 1968, o índice Ibovespa (ou simplesmente Ibovespa, como é conhecido) é uma das ferramentas mais utilizadas por profissionais do mercado financeiro e funciona como um termômetro das ações que são negociadas na bolsa de valores brasileira.

Ele representa uma carteira teórica de ações, ou seja, um conjunto de ativos em aplicações hipotéticas que vão pautar os valores de companhias no mercado e servir como referência para a bolsa de valores real. A função do índice é proporcionar orientação para que os investidores que estão acompanhando a bolsa consigam entender a média do mercado, seu comportamento e quais ações estão subindo ou descendo de valor.

A metodologia foi desenvolvida pelo economista Mário Henrique Simonsen, que já chegou a ocupar os cargos de Ministro da Fazenda e do Planejamento. Posteriormente, alguns critérios foram reavaliados por Luís Sérgio Coelho de Sampaio, também economista e  um dos principais organizadores da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, hoje inativa.

Para entrar no Ibovespa, as ações precisam basicamente atender a dois critérios: estar entre as maiores em volume de negociação e pertencer a empresas de grande porte com alto potencial de crescimento. O índice não inclui todas as ações disponíveis no mercado, mas sim aquelas que apresentam maior liquidez.

A composição muda a cada quatro meses, ou seja, nesse período as empresas com ações no índice são reavaliadas para se ter certeza de que ainda se encaixam nos critérios definidos pela bolsa de valores brasileira, a B3. Empresas pequenas com baixo volume de negociação dificilmente entram no indicador de desempenho, que acaba sendo dominado pelas grandes companhias.

De forma resumida, o que pode ser visto no Ibovespa são as expectativas que o mercado tem sobre ações e valores de determinadas empresas. Quando a variação sobe, é sinal de otimismo para o desenvolvimento econômico. Já uma queda representa uma desvalorização desse valor percebido. E é com base nessas percepções que a roda da economia gira.

Por que acompanhar o índice?

Ainda que represente variações teóricas, o Ibovespa é um instrumento consolidado para que investidores e acionistas consigam entender o comportamento do mercado e tomem decisões de como aplicar seus investimentos. Além de indicar padrões dos preços, o índice também aponta insights sobre o perfil das negociações que estão sendo realizadas com as principais ações do mercado brasileiro. Para quem está começando a lidar com investimentos, é uma forma de se integrar com as movimentações do setor.

Por si só, o Ibovespa não se comporta como um ativo que possa ser negociado na bolsa de valores. Contudo, acompanhar sua movimentação pode ajudar a aumentar o lucro de investimentos já realizados, minimizar perdas em potenciais e direcionar novas aplicações. Para que isso seja possível, o investidor precisa ter ações das empresas que compõem o índice, seja comprando diretamente ou por meio de fundos de investimento.

Quais são os critérios para uma empresa entrar?

Para ter suas ações avaliadas no Ibovespa, as empresas precisam cumprir alguns critérios que são definidos pela bolsa de valores brasileira. Alguns deles são:

  • Possuir ações negociadas na bolsa de valores brasileira, com exceção de ativos de valor imobiliário (BDR) ou de companhias em processo de recuperação judicial;
  • Ter presença de, pelo menos, 95% nos pregões realizados nos últimos três anos;
  • Compor o grupo de companhias com os mais altos índices de negociabilidade nos últimos três anos (essa variável é calculada pela razão entre o número de negócios realizados e o valor financeiro gerado);
  • Não ter ativos que foram classificados como penny stock, ou seja, possuir ações com valor abaixo de R$ 1;
  • Possuir volume financeiro superior a 0,1% do mercado à vista (compra de ações negociadas em bolsa com valores definidos por pregões) nos últimos três anos.

Caso uma empresa tenha realizado uma oferta pública inicial (termo que se refere à primeira vez que as ações de uma empresa são vendidas ao público em geral) nos últimos três anos, ela precisa cumprir requisitos adicionais, tais como ter realizado a oferta pública antes da reavaliação quadrimestral e estar presente em 95% dos pregões depois da oferta inicial.

As maiores empresas dentro do índice

Algumas companhias possuem um peso maior do que outras dentro do Ibovespa. De acordo com o nível de liquidez e o índice de negociabilidade de cada corporação, é definido um percentual de participação das ações daquela empresa, respeitando um limite máximo de 20% por companhia.

Apesar dessa limitação, atualmente, cerca de nove empresas correspondem a pouco mais de 58% do Ibovespa. Conheça quais são as principais empresas que compõem o índice e seus níveis de participação:

  • Itaú Unibanco – 10,502%
  • Banco Bradesco – 9,119%
  • Vale – 8,586%
  • Petrobras (PETR4) – 7,061%
  • Petrobras (PETR3) – 5,143%
  • Ambev – 5,138%
  • Banco do Brasil – 4,468%
  • B3 – 4,154%
  • Itaú S.A. – 3,855%

Algumas empresas aparecem mais de uma vez por terem diferentes tipos de ações negociadas dentro do índice, entre preferenciais e ordinárias. Além disso, nem todas as ações possuem o mesmo peso dentro do sistema de pontos do Ibovespa, uma vez que esse valor varia segundo o volume de ativos que uma empresa têm na composição do indicador.

Isso significa que quando ocorrem variações, seja de alta ou baixa, não necessariamente quer dizer que todas as ações aumentaram ou diminuíram seu valor. Como alguns ativos apresentam um peso maior do que outros, eles têm uma influência maior na variação.

Com isso, as movimentações acabam sendo pautadas majoritariamente pelas ações de empresas que possuem uma parcela maior de presença no índice. Por conta disso, algumas considerações são essenciais ao analisar o indicador.

As variações dentro do índice

Mesmo para quem não acompanha de perto o Ibovespa, é comum ver notícias de que o índice teve alta ou baixa. Essa avaliação é realizada a partir de um cálculo que analisa o peso que uma determinada ação tem dentro do indicador e sua cotação real no dia. O peso é multiplicado pela cotação e o resultado encontrado são os pontos daquela ação e sua contribuição. Dentro da carteira hipotética, um ponto é o mesmo que R$ 1.

Esse processo é realizado em todas as ações que compõem o índice e são calculadas em tempo real, causando oscilações constantes nos valores de mercado. E diversos fatores podem contribuir para essas variações, inclusive notícias e informações sobre as empresas. Mudanças na cotação do dólar e na taxa básica de juros da economia, conhecida como Selic, são exemplos de fatores que vão interferir diretamente nas variações.

“Informações específicas sobre a empresa também têm impacto. Quando a Petrobras, uma das empresas com maior representatividade dentro do Ibovespa, teve o esquema de corrupção do Petrolão divulgado, houve uma série de repercussões, com o valor das ações caindo. Movimentações políticas também podem impactar”, esclarece Raymon.

O consultor também aponta que o indicador é extremamente volátil, por isso investidores precisam ser cautelosos ao comprar ações que estão no índice, principalmente aqueles que são iniciantes, e evitar tomar atitudes ou ter reações muito emocionais às variações.

Cuidados necessários ao acompanhar o Ibovespa

Como citado anteriormente, dentro do Ibovespa, nove companhias correspondem a aproximadamente 60% do total de ações. Isso significa que qualquer variação que ocorra dentro dessas empresas especificamente tem um impacto muito grande em como as projeções vão ser apresentadas. Contudo, elas por si só não refletem fielmente a posição do mercado como um todo.

Especialista em finanças e head de investimentos da consultoria de valores mobiliários Andaluz Investimentos, Thiago Raymon afirma que o índice é um bom indicador do mercado, já que as repercussões da economia interferem no Ibovespa, mas que ele não pode ser a única variável para tomada de decisões relacionadas a investimentos.

“Acompanhar é bom para que você possa ter uma ideia das variações que estão acontecendo, mas para comparar com a sua carteira de investimentos não necessariamente é uma boa referência, justamente pelo fato que são poucas empresas que impactam mais as movimentações”, ressalta.

Ele analisa que essa predominância de poucas companhias pode tornar o indicador enviesado, mas ele ainda é um representativo interessante da economia por um todo, que costuma ser pautado por um grupo seleto de grandes empresas.