Finanças comportamentais: 6 gatilhos que sabotam sua saúde financeira

Por Redação Onze

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As finanças comportamentais provam que nossas decisões sobre dinheiro não são tão racionais como acreditamos. Mesmo quando se trata do bolso, nossas emoções prevalecem e podem levar a escolhas inconscientes e duvidosas — desde um uso irresponsável do crédito até investimentos equivocados.

Isso explica porque tantos investidores têm prejuízos enormes com ações impensadas e decisões movidas pelo medo, raiva ou mesmo excesso de confiança.

Ao mergulhar no estudo das finanças comportamentais, você vai entender como as nossas emoções e sentimentos influenciam na saúde financeira e quais gatilhos podem sabotar seus planos. Basta acompanhar os tópicos:

  • O que são finanças comportamentais?
  • Origem das finanças comportamentais
  • Como as emoções impactam a saúde financeira
  • 6 gatilhos comportamentais que você precisa controlar.

Continue lendo e aprenda a controlar sua mente nas decisões sobre dinheiro.

O que são finanças comportamentais

Finanças comportamentais compreendem uma área de conhecimento que estuda os efeitos de fatores psicológicos, sociais e emocionais nas decisões dos agentes econômicos. Enquanto a teoria econômica tradicional encara os indivíduos como seres totalmente racionais, essa disciplina investiga como o comportamento das pessoas afeta suas escolhas financeiras e o movimento do mercado no geral.

Em outras palavras, as finanças comportamentais estudam os limites da racionalidade dos agentes econômicos — principalmente investidores. Afinal, todas as pessoas tomam decisões influenciadas por emoções e erros cognitivos, e não seria diferente na área econômica.

Logo, essa ciência busca identificar esses aspectos psicológicos que impactam o processo decisório e geram anomalias no mercado financeiro, como a oscilação de preços e as famosas “bolhas”. Assim, fica claro que por trás das ineficiências do mercado estão os sentimentos inflamados, falhas de percepção, visões tendenciosas e gatilhos mentais.

Origem das finanças comportamentais

As raízes das finanças comportamentais estão nas primeiras obras da psicologia econômica, como o clássico Psychologie Économique (1902), de Gabriel Tarde, que contestavam a racionalidade ilimitada da teoria tradicional. Durante a maior parte do século 20, ainda prevaleceu a tese do homo economicus dos economistas neoclássicos: um homem abstraído de todas as dimensões morais, culturais, éticas e políticas do comportamento humano, focado apenas no consumo e produção.

Além disso, os economistas se baseavam na chamada Teoria da Utilidade Esperada, que determinava a busca pela maximização da utilidade em todas as ações do ser humano. Na década de 1970, os autores Daniel Kahneman e Amos Tversky se tornaram os principais críticos dessa teoria, reivindicando que o comportamento de gestão de risco é irracional e que muitas vezes as pessoas tomam decisões de menor valor esperado.

Dessas ideias inovadoras, nasceu a Teoria da Perspectiva de Kahneman e Tversky em 1979, que descreve o modo como as pessoas escolhem entre alternativas que envolvem risco e probabilidades incertas. Em sua essência, a teoria diz que o medo das perdas prevalece sobre as expectativas de ganhos — dando origem ao conceito-base das finanças comportamentais de aversão ao risco.

Assim, as finanças comportamentais se estabeleceram no meio acadêmico, levando Kahneman a ganhar o Nobel de Economia em 2002. Hoje, o assunto vem ganhando destaque entre investidores que buscam controlar seus impulsos emocionais na hora de tomar decisões financeiras.

Como as finanças comportamentais impactam a saúde financeira

As finanças comportamentais oferecem uma base importante para compreender nossas decisões financeiras, ou seja, nossas escolhas sobre investimentos, alocação de recursos e prioridades no orçamento. Um conceito essencial para entender nosso comportamento financeiro são as heurísticas: atalhos mentais, ou regras de bolso, que usamos para simplificar nossa avaliação e previsão de resultados.

Desde os trabalhos de Kahneman e Tversky, os pesquisadores das finanças comportamentais têm descoberto várias heurísticas e vieses que induzem as pessoas a tomar decisões equivocadas sobre dinheiro. Por exemplo, a heurística de ancoragem nos leva a usar informações iniciais como ponto de partida para estimar valores — como quando o vendedor nos diz que o preço original era muito superior ao valor promocional, e concluímos automaticamente que se trata de um ótimo negócio.

Outro exemplo é a aversão à perda, que explica por que nós conseguimos manter uma dívida no cheque especial e uma aplicação que rende menos que os juros pagos, em vez de quitar a dívida e diminuir o investimento. Ou seja: a sensação de perda, mesmo que irracional e injustificada, prejudica diretamente nosso bolso.

Então, quem for capaz de perceber esses atalhos inconscientes que atrapalham nossa percepção real de valor estará um passo à frente na saúde financeira.

6 gatilhos das finanças comportamentais que você precisa controlar

Os teóricos das finanças comportamentais descobriram os principais gatilhos mentais que nos levam a tomar más decisões financeiras. Veja quais são eles e como recuperar o controle.

  • Aversão à perda

A aversão à perda é um dos principais vieses que influenciam as decisões financeiras (e um dos primeiros categorizados nas finanças comportamentais). Seu gatilho mental leva as pessoas a darem mais importância às perdas do que aos ganhos.

A explicação psicológica é que a dor da perda é muito mais intensa do que o prazer dos ganhos. Por isso, é comum que as pessoas insistam em investimentos sem perspectiva ou hábitos financeiros nocivos pela resistência em admitir suas perdas, ou mesmo se desfaçam de posições lucrativas por medo do prejuízo.

Para controlar a aversão à perda, é preciso lutar contra o medo de perder e aprender a lidar com os inevitáveis prejuízos que alguns ganhos de longo prazo exigem. Comece optando por quitar dívidas com qualquer dinheiro extra, em vez de guardá-lo apenas para manter uma satisfação ilusória de que você tem aquela quantia.

A ancoragem é um dos gatilhos mais conhecidos no mundo financeiro, que nos leva a fazer estimativas com base em valores de referência anteriores. É o que faz com que as promoções sejam tão atrativas, pois nosso cérebro se ancora no valor anterior para determinar a relevância do desconto.

Por isso, a ancoragem é uma armadilha perigosa, que gera várias decisões duvidosas sobre compras e investimentos — desde a compra de produtos que não estão realmente baratos (preço anterior inflado) até a noção de rentabilidade futura atrelada à rentabilidade passada.

Aliás, esse é um dos principais acionadores das temidas compras por impulso, que ainda faz você achar que está saindo na vantagem por aproveitar uma grande oportunidade. Lembre-se: se você compra um produto de R$ 300,00 por R$ 250,00, você não está “economizando” R$ 50,00, e sim gastando R$ 250,00 (esse é um bom começo para treinar seu cérebro contra esse gatilho).

  • Falácia do jogador

A falácia do jogador é um viés que tem origem em cálculos falhos de probabilidade, quando somos incapazes de perceber a independência das estatísticas. O exemplo mais icônico é quando jogamos cara e coroa em uma moeda e, após repetidos resultados “cara”, passamos a acreditar que essa é a maior probabilidade do jogo (acima de 50%, no caso).

Para evitar essa falha cognitiva, não podemos nos esquecer dos conceitos básicos de probabilidade, levando a sério a independência dos eventos e a ausência de um padrão específico. Ou seja: as chances de ocorrer um resultado específico são as mesmas todas as vezes, independentemente do último resultado.

Então, não é por que você ganhou um bom dinheiro com um investimento no mês passado que esse resultado vai se repetir. Da mesma forma, qualquer decisão financeira que envolva apostas e resultados imprevisíveis deve ser analisada com muito cuidado.

  • Excesso de autoconfiança

A autoconfiança excessiva também é um gatilho frequente das finanças comportamentais, que nos leva a confiar demais em nossos próprios conhecimentos e opiniões. Como consequência, achamos que estamos sempre certos nas decisões financeiras, mesmo que a informação disponível não seja suficiente para isso.

Por isso é tão comum ver investidores arriscando seu patrimônio com base em informações aleatórias e duvidosas, como a compra por impulso de um ativo por conta de uma única opinião ou recomendação. Outro exemplo é a crença de que será capaz de pagar compras a prazo, mesmo no limite do orçamento.

A solução é óbvia: sempre duvide de si mesmo, principalmente quando o assunto é dinheiro.

O viés de confirmação deriva em parte da autoconfiança, pois nos faz interpretar informações com o único intuito de confirmar nossas próprias convicções.

Isso acontece quando vemos informações contrárias a uma marca ou produto no qual confiamos e negamos a todo custo, mesmo que isso traga dores de cabeça em compras futuras. Ou quando alguém aponta nossos erros de gestão financeira e insistimos até o fim, chegando a manipular nossas contas só para provar que estamos certos.

Nossa primeira reação é negar as críticas e nos apegar à nossas crenças, mesmo que isso signifique perder dinheiro com escolhas ruins. Por isso, é importante buscar informações sem a pretensão de validar suas próprias opiniões e valorizar a educação financeira.

O efeito manada é um gatilho acionado pela dimensão social da nossa mente, que tende a seguir o comportamento do grupo para se encaixar. Nas finanças comportamentais, é um dos vieses que gera os maiores estragos no mercado, pois leva os investidores e consumidores a tomar decisões influenciadas por tendências imediatas.

É o que acontece quando investidores começam a comprar uma determinada ação e divulgar seu potencial de valorização, até que de fato o preço do papel sobe, pois todos resolveram comprar ao mesmo tempo.

O mesmo ocorre com produtos e serviços que se tornam “febre” entre os consumidores e levam ao consumo compulsivo, como o lançamento de um novo iPhone, eletrônico ou utensílio doméstico.

6. Escolha intertemporal

Por fim, o gatilho da escolha intertemporal diz respeito à nossa tendência de manipular a sequência de eventos em decisões que dependem do tempo para se concretizar. Na área financeira, sua base é a troca intertemporal, na qual trocamos um custo por um benefício — como no caso dos juros, que são o custo da antecipação de um benefício.

Se o ser humano fosse 100% racional, escolheria sempre pagar agora e consumir depois, do ponto de vista da vantagem econômica. Mas ocorre justamente o contrário: quando chega o momento da decisão, nosso impulso é consumir agora e pagar depois — ou seja, recorrer ao crédito ou deixar de poupar para o futuro.

Uma prova do efeito da escolha intertemporal é que seis em cada dez brasileiros não se preparam para a aposentadoria, segundo uma pesquisa feita pela SPC Brasil divulgada no R7 em 2019. Claramente, as pessoas ainda trocam a garantia do futuro pelos desejos imediatos — um erro gravíssimo diagnosticado pelas finanças comportamentais.

Para superar esse gatilho, é importante ter investimentos de longo prazo como um plano de previdência privada, que assegurem um patrimônio para o futuro e uma aposentadoria tranquila.

Exemplos do poder das decisões emocionais

Até grandes investidores como Warren Buffett já tiveram seus momentos de irracionalidade: em 1964, quando a Berkshire Hathaway ainda era uma indústria têxtil lutando para sobreviver no mercado, ele se deixou levar pela raiva e tomou uma decisão equivocada. Com as dificuldades da empresa, ele planejou vender sua parte das ações para o então CEO Seabury Stanton.

No entanto, ele ficou ofendido com o valor oferecido por Stanton, acreditando que as ações estavam subavaliadas. Então, em vez de vender sua parte, ele fez o oposto: se esforçou para comprar todas as ações até ter o direito de demitir o CEO. Por causa dessa decisão, Buffet passou as próximas duas décadas perdendo dinheiro em uma empresa à beira da falência, totalizando um prejuízo de US$ 100 bilhões, conforme dados publicados na Fast Company em 2019.

Outro exemplo, dessa vez de um efeito psicológico coletivo, é o famoso “Joesley Day”: o dia em que o pânico derrubou a bolsa de valores com a divulgação de conversas comprometedoras entre o empresário Joesley Batista da JBS e o então presidente Michel Temer.

Sem saber quais seriam as implicações do escândalo, os investidores correram para vender suas ações e a bolsa caiu 10% logo na abertura, levando ao acionamento do circuit breaker (interrupção das negociações). Com isso, muitos perderam milhões impulsionados pelo pavor diante dos riscos.

Não à toa, uma pesquisa do cientista comportamental Stephen Wendel publicada em 2018 no Journal of Financial Planning revela que os investidores que trabalham para eliminar as emoções de suas decisões têm retornos 23% maiores em longo prazo.

Entendeu a importância das finanças comportamentais e como controlar seus gatilhos? Agora é só colocar o aprendizado em prática e conquistar sua saúde financeira.